A Novo Nordisk anunciou na segunda-feira que o seu medicamento semaglutida – o ingrediente ativo em medicamentos populares para perda de peso como Ozempic e Wegovy – não retardou o declínio cognitivo em pacientes com comprometimento cognitivo leve ou doença de Alzheimer em estágio inicial. As descobertas vêm de dois grandes ensaios randomizados e controlados por placebo, envolvendo quase 4.000 participantes durante um período de dois anos.
Otimismo inicial e as provações
Os estudos foram lançados num contexto de entusiasmo crescente sobre o potencial da semaglutida para além dos distúrbios metabólicos. O medicamento já demonstrou eficácia notável no tratamento da obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardíacas e até mesmo de certas doenças renais. Este sucesso levou os investigadores a investigar se também poderia abordar doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer.
Os ensaios designaram os participantes para receberem semaglutida em forma de comprimido ou placebo. Apesar do sucesso do medicamento em outras áreas, não foi observada nenhuma melhora estatisticamente significativa na cognição ou no funcionamento diário no grupo da semaglutida em comparação com aqueles que receberam o placebo.
Por que isso é importante
O fracasso da semaglutida nestes ensaios é significativo por diversas razões. A doença de Alzheimer afecta dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo, sem cura actualmente disponível ou tratamento eficaz para travar a sua progressão. A doença não é apenas devastadora para os pacientes e familiares, mas também coloca uma enorme pressão sobre os sistemas de saúde.
A procura de novos tratamentos tem sido dificultada pela natureza complexa da doença e pela elevada taxa de insucesso nos ensaios clínicos. A promessa inicial da semaglutida resultou dos seus efeitos nas vias metabólicas e inflamatórias, ambas implicadas no desenvolvimento da doença de Alzheimer. Os novos dados sugerem que visar estas vias pode não ser suficiente para alterar o curso da doença.
Resposta da Novo Nordisk
O CEO da Novo Nordisk, Maziar Mike Doustdar, reconheceu os resultados decepcionantes em um vídeo do LinkedIn, afirmando: “Com base nos dados indicativos que tínhamos, este não é o resultado que esperávamos”. A empresa agora parece estar se afastando da pesquisa sobre Alzheimer.
Embora a semaglutida continue a ser um avanço na medicina metabólica, estes resultados sublinham os desafios na descoberta de tratamentos eficazes para doenças neurodegenerativas. A investigação futura poderá ter de se concentrar em alvos alternativos ou em terapias combinadas.
Os ensaios falhados servem como um lembrete de que a reorientação de medicamentos existentes para novas doenças raramente é simples, mesmo quando a biologia subjacente sugere uma ligação plausível.
